segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Arvo


ai como é chato acreditar em nada
sem arvo pra atirar
sem bala na agulha
com todas as balas doces estouradas nos miolos
as agulhas costurando com máquina o peito
e as alvores balançando como sempre que tem vento
matando a sede sempre quando chove.
eu me matando de sede no ano de 2000 inove
quase chovo de tristeza.

a arma quase pula fora do corpo
vomitada.
a alma atira atira atira
na vida que corre com 20 anos de fios
cravados no corpo

semana passada Ana se atirou na vida
pulou da montanha e voou direto
montanha de trinta andares
no mar de concreto.

wb.

domingo, 3 de maio de 2009

capemuja

só os olhos dos tristes enxergam. ou será que eles distorcem as coisas. não.nenhum olho enxerga. enxerta. ser feliz é...
ser feliz. calma é nada.
calma nao serve pra nada. calma é suja. pura sujeira. sujeira é pura. pureza do ser. sujo. ser sujo. sujo de terra.
sujo. o cara sujo. o caramujo dourado da riqueza. sujeza. subjetividade. sub atividade. sub injetabilidade.
submundo. sob mundo. sobe fundo. sobre o fundo. sobre mundo. sobrenatural subnatural. bem e mal. bem e sal. sal e mal.
sal e bem. salve o bem. o bem sujo. sujinho. o mais sujo. o xujo. o cujo. cujomujo dourado. carasujo salvado.
o salvamujo selvagem. o salva gado. salpicado de ser. ser tão. ser tão zinho. casamuja. casula. brobuleta.
brobulheta ampulhada. ampulheta embrulhada.borboleta empalhada. embrulheta parada. borcapeta encarnada. capulheta embromada.
encalhada encapeta. encapada cafeta. quis ser feita foi feto. natimorreu.

wb.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Além do Ponto

Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse o táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado da chuva, porque aí beberíamos o conhaque, fazia frio, nem tanto frio, mais umidade entrando pelo pano das roupas, pela sola fina esburacada dos sapatos, e fumaríamos, beberíamos sem medidas, haveria música, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima de mim, ducha morna distendendo meus músculos. Mas chovia ainda, meus olhos ardiam de frio, o nariz começava a escorrer, eu limpava com as costas das mãos e o líquido do nariz endurecia logo sobre os pêlos, eu enfiava as mãos avermelhadas no fundo dos bolsos e ia indo, eu ia indo e pulando as poças d’água com as pernas geladas. Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar na casa dele meio bêbado, hálito fedendo, não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu andava, estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava, roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontrasse, para que não visse o dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era. Começou a acontecer uma coisa confusa na minha cabeça, essa história de não querer que ele soubesse que eu era eu, encharcado naquela chuva toda que caía, caía, caía e tive vontade de voltar para algum lugar seco e quente, se houvesse, e não lembrava de nenhum, ou parar para sempre ali mesmo naquela esquina cinzenta que eu tentava atravessar sem conseguir, os carros me jogando água e lama ao passar, mas eu não podia, ou podia mas não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar indo ao encontro dele, que me abriria a porta, o sax gemido ao fundo e quem sabe uma lareira, pinhões, vinho quente com cravo e canela, essas coisas do inverno, e mais ainda, eu precisava deter a vontade de voltar atrás ou ficar parado, pois tem um ponto, eu descobria, em que você perde o comando das próprias pernas, não é bem assim, descoberta tortuosa que o frio e a chuva não me deixavam mastigar direito, eu apenas começava a saber que tem um ponto, e eu dividido querendo ver o depois do ponto e também aquele agradável dele me esperando quente e pronto. Um carro passou mais perto e me molhou inteiro, sairia um rio das minhas roupas se conseguisse torcê-las, então decidi na minha cabeça que depois de abrir a porta ele diria qualquer coisa tipo mas como você está molhado, sem nenhum espanto, porque ele me esperava, ele me chamava, eu só ia indo porque ele me chamava, eu me atrevia, eu ia além daquele ponto de estar parado, agora pelo caminho de árvores sem folhas e a rua interrompida que eu revia daquele jeito estranho de já ter estado lá sem nunca ter, hesitava mas ia indo, no meio da cidade como um invisível fio saindo da cabeça dele até a minha, quem me via assim molhado não via nosso segredo, via apenas um sujeito molhado sem capa nem guarda-chuva, só uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito. Era a mim que ele chamava, pelo meio da cidade, puxando o fio desde a minha cabeça até a dele, por dentro da chuva, era para mim que ele abriria sua porta, chegando muito perto agora, tão perto que uma quentura me subia para o rosto, como se tivesse bebido o conhaque todo, trocaria minha roupa molhada por outra mais seca e tomaria lentamente minhas mãos entre as suas, acariciando-as devagar para aquecê-las, espantando o roxo da pele fria, começava a escurecer, era cedo ainda, mas ia escurecendo cedo, mais cedo que de costume, e nem era inverno, ele arrumaria uma cama larga com muitos cobertores, e foi então que escorreguei e caí e tudo tão de repente, para proteger a garrafa apertei-a mais contra o peito e ela bateu numa pedra, e além da água da chuva e da lama dos carros a minha roupa agora também estava encharcada de conhaque, como um bêbado, fedendo, não beberíamos então, tentei sorrir, com cuidado, o lábio inferior quase imóvel, escondendo o caco do dente, e pensei na lama que ele limparia terno, porque era a mim que ele chamava, porque era a mim que ele escolhia, porque era para mim e só para mim que ele abriria a sua porta. Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu, mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora. E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele o teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca.


CaioFernandoAbreu.

domingo, 22 de junho de 2008

Fragmentos...


Não vamos buscar sentido no que não tem sentido, só por que ninguém o achou não quer dizer que ele não exista... e se alguém um dia o achar? O que faremos com ele? Um bolo? Quem sabe uma torta? Isso torta de sentido! Suco!
-moça, me vê um suco sabor sentido?

...

Tudo parece bobagem
E na verdade é.
Não se levanta quando se acredita estar deitado eternamente,
Vive-se morto
Com a suave e morna temperatura
Da pele macia que acaba de acordar
Da cama quentinha
E que a cama quentinha há de fazer dormir
Há de riscar idéias
E esquecer frases
E escrever fases
Fases surrealistas
Que cada dia é uma fase
E a cada dia se faz frases
E se divulga as fezes
Que nem se sabe o significado
Mas o cheiro... o cheiro sim.
Nada mais que um cheiro
Estado passageiro
Que passa e volta
E sempre vai voltar
E sempre há de ir novamente
E novamente a palavra ‘sempre’
Repleta de proibições
Recheada de medo
Cai como uma luva
E veste como uma lupa quebrada
Que corta e abre a porta
E corta a torta de sentido
Que o único fim da palavra ‘sentido’
É para uso culinário.
Mais uma passagem
Vai pro cemitério das frases
Será que mais uma idéia
Vai se juntar aos morto-vivos
No inconsciente?
Nunca se sabe
Mas o sintoma se sente bem
O sintoma se sente bem
A gente é que não se sente
E sente um ao outro
Como semelhantes
Que se diferem... copiosamente.
A cópia da diferença
Mas cada cópia é única
A única cópia que existe
O resto é cópia da cópia
E o original?
O original já era cópia.
‘Original’ só serve para marca de cerveja
E cerveja só serve para ver
o que você não quer.
Funciona...
Como uma lupa
Veja o ser, cerveja.
O ser é a única coisa que não se vê nunca
E a palavra ‘única’...
Que é uma cópia das que vi,
Seria riscada se não me desse inspiração
Para essas próximas linhas
Linha de pipa
Que sai de um bordado perfeito
E quanto mais se descarrega
Quanto mais longe a pipa vai
Mais o bordado desmancha
(...)
Surreal, seu real,
Que nem você sabe o que é
Freud não explica
Nem nada explica
A palavra ‘nada’
Não significa.
Igual a palavra ‘significado’.

wb.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Viver

Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros, pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar,
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!

MarioQuintana.












-why are you wearing that stu
pid bunny suit?

-why are
you wearing that stupid man suit?

nem assisti Donnie Darko de novo... nem!

segunda-feira, 3 de março de 2008

"A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai construindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de um lado, por ser única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experenciados no campo comum da objetividade social. Essa síntese - a subjetividade - é o mundo de idéias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.
O mondo social e cultural, conforme vai sendo
experenciado por nós,possibilita-nos a construção de um mundo interior. São diversos fatores que se combinam e nos levam a uma vivência muito particular. Nós atribuaimos sentido a essas experiências e vamos nos constituaindo a cada dia.
A
subjetividade é a maneira de sentir,pensar,fantasiar,sonhar,amar e fazer de cada um."